segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Um inclinação feérica

Ela queria a liberdade de jogar tudo para o alto
E nos dias de maior loucura, até jogava
Bebia tequila, dançava até o dia acabar, chorava na mesa do bar
Voltava  a ter 20 anos
Mas de manhã, ao acordar, colocava tudo no lugar
Ela queria se libertar, mas não era sempre...
Às vezes ficava confusa e no fim gostava da sua escravidão particular
Ela sempre reconhecia os erros da noite anterior, mesmo assim não parava de errar
Sempre pedia desculpas, juntava as coisas do chão, quieta
Tinha duas faces, duas personalidades
E amava as duas!

Não, nem tente convencê-la do equilíbrio
Não é que não soubesse, ou que não tivesse tentado
Mas com ela e pra ela, não funcionava
Ela sempre desistia no final
Vivia entre o 8 e oitenta quase todos os dias
E quando decidia ser o oito, sentia falta de ser oitenta
Vice-versa! Não podia...
Volta e meia citava Drummond e ouvia os conselhos de Janis:
"bebo tudo, 
desfaço tudo,
torno a criar, a esquecer-me:
Durmo agora, recomeço ontem"
Não tinha coragem de fugir de verdade, nunca teve
Ainda mais diante dos olhos castanhos e batalhadores de seus maiores amores
Ah não, jamais poderia desapontar aqueles pais...
A rebeldia era só um sonho, no fim ela gostava de ser careta
Não sabia ao certo, "quem sabe numa próxima vida"
Essa já está feita!
Desistiu de desistir, havia dentro dela algo maior
Que a motivava, até sem motivo
Ela não conseguia não ser otimista... uma droga!
E enquanto juntava seus pedaços no chão, citava Drummond novamente:
"Serei as coisas mais ordinárias e humanas, e também as excepcionais:
tudo depende da hora
e de certa inclinação feérica,
viva em mim qual um inseto"
Colada, calada, refeita, estava novamente pronta pra recomeçar
Mais uma vez e quantas mais ainda fossem necessárias!
Foi pra sua luta diária, decidida a vencer
Quando terminasse, finalmente fugiria pra Irlanda atrás do que era só seu!

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