sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dos sonhos

Foi meu pai quem me ensinou a sonhar. Não sei como se ensina alguém a sonhar, não sei se isso pode ser ensinado, mas foi o meu pai. Um jovem senhor, hoje com 51 anos. Filho de pernambucano, órfão de mãe aos 9, vivendo no sítio com mais 10 irmãos, trabalhando na roça desde sempre, estudou só até a 3ª série. Comeu o pão que o diabo amassou nas unhas da madrasta, passou fome e frio quando veio tentar a sorte por aqui. Traído pela esposa, casou-se outras vezes, sustentou muita gente, trabalha todos os dias faça chuva ou sol, suas pernas estão quase acabadas por causa das varizes.  Ele  é pai de 5 filhos próprios e outros 3 enteados. Meu pai. Esse cara, que tinha tudo pra me dizer o contrário é o único que ainda diz: não desista dos seus sonhos!

Hoje tentei convencê-lo, em vão, de que sonhar não adianta nada. Quis mostrar a ele toda a minha indignação diante do mundo, como se ele tivesse me enganado a vida inteira. Queria achar um escape, uma desculpa. Mas ele se manteve irredutível e disse: eu sei que não é fácil, eu sei, mas se você desistir de sonhar não vai restar nada.

Eu queria ter dito muito mais coisas para ele, eu queria mesmo dizer que não aguentava mais, queria ter dito pra ele que eu estava cansada e que se eu não tivesse sonhado tanto, hoje minhas decepções com o mundo não doeriam tanto. Queria ter chorado no colo dele e reclamado de tudo que tem acontecido. Queria ter dito pra ele que a corrupção no governo, em qualquer governo é desestimulante. Queria ter dito pra ele que ter policiais que mentem, matam e participam da venda e compra de drogas apreendidas por eles é repugnante. Queria dizer ao meu pai que na maioria das empresas, o que vale é o dinheiro e não o caráter das pessoas. Queria dizer a ele que eu estou decepcionada com a mídia, com as pessoas e com todas as injustiças que eu vejo quase que diariamente. Queria dizer que acho um absurdo as misérias humanas. Queria dizer que não entendo porque quem prefere ser honesto quase nunca chega a lugar algum. Queria dizer que não aguento ver crianças sofrendo. Queria dizer que não me conformo de as coisas serem como são e o pior, eu saber porque são assim e simplesmente não poder fazer nada. Mas eu não disse.

Meu pai tem olhos castanhos grandes e profundos e eu fico paralisada quando os vejo cheios d'água. Não posso desistir, nunca, por ele, por aqueles olhos, aquele olhar. Não posso desistir pela minha mãe, que me acolhe, me levanta e me dá chão. Não posso desistir, porque tenho alguns grandes e bons amigos que são exemplos de determinação e coragem. Seria rídiculo se eu desistisse agora. Eu praticamente ainda nem tentei pra valer.

Tem sido difícil saber todas as verdades que eu não sabia antes. De certa forma eu deveria estar feliz por saber agora, mas do que vale saber a verdade, se não se pode fazer nada com ela? Como é que a gente muda as coisas? Como é que se faz a diferença nesse mundo torto e doente?

Em alguns dias, eu não encontro respostas, não vejo a saída...


sexta-feira, 11 de maio de 2012

O grito dos inconformados

Cuide de ser quem você é. Não importa o quanto seja difícil se manter fiel aos seus valores nesse mundo doentio. Seja forte! Nada compensa mais do que acordar de manhã com a certeza de que você não se perdeu no caminho. É isso que conta, é isso que vai valer sempre.

Então, tudo que você acreditava de uma hora pra outra não existe mais? De Deus ao efeito estufa, tudo, até a história do Brasil que você copiou zilhões de vezes do quadro negro na 7ª série. Tudo se perdeu, nada existe mais. Quer dizer que fomos enganados a vida toda?! Até minha mãe mentiu pra mim quando disse que drogas não eram legais?! O quê sério que maconha não faz nenhum mal?!

Não estou dizendo que não podemos aprender coisas novas, não estou questionando o doutor que apareceu esses dias no Jô falando que não existe isso de efeito estufa. Pô, ainda bem que não existe e ainda bem que o mundo realmente não vai acabar. Óbvio que as coisas mudam conforme crescemos. Mas eu não consigo acreditar que fui enganada a vida toda. Não me conformo com isso.

Eu acredito, desde sempre, que cada um é responsável por sua felicidade, que esta felicidade que tanto desejamos depende única e exclusivamente das escolhas que fazemos. Somos autores da nossa própria vida. Ela é preciosa demais para ser tratada com descaso, como se fosse uma brincadeira. Alguns vão dizer que eu estou sendo radical demais e que só vive de verdade quem não tem medo. Mas eu não tenho medo de viver, ou de ser feliz ou de sofrer. Apenas prefiro não arriscar essa vida que amo tanto, essa felicidade diária que tanto desejo, por qualquer besteira. Não! Aprendi a ser prudente. Se sou responsável pela minha própria felicidade, eu não vou me estabacar na primeira esquina por causa de uma escolha errada. Eu não vou perder nenhum segundo.

Não desejo ter o controle de tudo, isso não cabe a mim. Não desejo que tudo seja do meu jeito, isso é ridículo. Mas o que está ao meu alcance, às escolhas que só podem ser feitas por mim, essas eu pretendo acertar.