sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sobre tempo, mudança, saudades, liberdade e esperança

Fiquei muito tempo olhando pra trás naqueles dias, eu realmente não aceitava que tudo tivesse mudado, não é que fosse tão bom assim, mas eu simplesmente não queria a mudança. Não era apenas uma coisa, uma pessoa ou um período de tempo, era tudo. Os amigos, o namorado, o trabalho, as músicas, as festas. Eu não tinha certeza se conseguiria sair dali, do meu lugar confortável de sempre, eu não tinha certeza se queria e se precisava realmente sair. Mas não tinha mais jeito, o tempo passou muito rápido e estava tudo diferente. Mesmo com a saudade que sinto de todas as coisas que vivi, não dava mais pra ficar com os álbuns de fotografias e as velhas declarações de amor nas mãos. 
Percebi que ano após ano, eu ouvia as mesmas músicas, lia os mesmos poemas, via as mesmas imagens e acumulava exatamente a mesma espera. Eu estava estagnada de um jeito que mal conseguia me mexer. Ficava paralisada em frente ao computador, em silêncio, esperando um sinal, esperando a vida voltar pro lugar, talvez até esperando ele voltar. Mas nada acontecia, então eu me esforçava pra mudar e até conseguia por um ou dois dias, ainda assim, geralmente a semana acabava no mesmo lugar. Absurdo ou não, eu insistia na vida medíocre de antes. Escrevia duas linhas novas, me enchia de orgulho a cada novo acerto, por ter ido mais de duas vezes pra academia e de não perder a hora, mas então me sabotava e voltava pro nada. Estava exausta de brigar comigo e sempre perder.
Num dia específico, depois de perder mais uma manhã avaliando meus erros, acertos e decepções só senti tédio. Não gostei mais do que vi, cansei de olhar minhas repetições. Queria uma música nova, queria um novo poema, uma nova imagem, um novo lugar pra ir e uma nova esperança. Eu não queria recomeçar, eu queria começar, do zero e completamente diferente. Existiam tantas coisas impregnadas no meu coração e no meu jeito de ser, eu sabia que meu passado tinha construído a minha personalidade e caráter e que não poderia jogá-lo inteiramente fora, mas eu precisava de uma carta de alforria e de uma nova janela pra pular, um novo caminho e objetivo. Eu precisava ou sufocaria, morreria abraçada ao tédio e desgosto. 
Não acho que exista algum modelo pronto, uma receita pra começar do zero, na verdade agora mesmo eu nem tenho um plano, mas só pela decisão de viver diferente já acho que evoluí alguns centímetros entre o sofá da sala e a porta de saída. No fundo é tudo uma questão de força de vontade. Você pode até desanimar no meio da sua jornada, mas, como dizem, precisa ser mais forte que a sua melhor desculpa.

Existe um texto que fala que o momento pra ser feliz é agora, que a gente fica sempre adiando isso, colocando um obstáculo na frente da felicidade e eu concordo. Como naquele filme " Up", no fim era só uma casa, demorou pra entender isso, mas era só uma casa cheia de balões coloridos. O que a gente precisa nessa vida é de desapego, começando pelas pessoas e pelas lembranças. Não é pra não se importar e ser egoísta, aliás é o oposto disso, é pra não se prender a nada e nem prender ninguém, é pra se livrar dessa possessividade maldita que nos impede de ir adiante. É pra gente conseguir toda essa liberdade que deseja, sem culpa alguma. 


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