sexta-feira, 23 de julho de 2010

Cheiro de saudade

O passado tem cheiro de café. Perceba, os melhores momentos da vida estão ligados á duas bebidas. Geralmente falamos de cerveja. Mas hoje, o cheiro é de café fresquinho.
Tarde da noite. Frio e chuva fraca na cidade princesa. As pessoas saíam de casa com luvas, gorros e cachecóis. Eu estava no 2º ano de jornalismo.
Pouco antes de descobrirmos os prazeres dos bares universitários, as noites sempre acabavam na cafeteria da rua de baixo. Íamos lá tomar café, com creme e granulado. Comprar bombom no intervalo. Comer aqueles sanduíches enormes. Chorar mágoas. Matar o tempo. Qualquer que fosse o dia, o momento ou o motivo. A cafeteria era o ponto de encontro. Todas as vezes que eu perdia o primeiro ônibus pra casa, era lá, no cheiro do café que eu encontrava proteção. Quando saíamos mais cedo, ou mesmo quando fugiamos das aulas chatas de Teoria da Comunicação. Aqueles bancos também guardam histórias do quarteto fantástico. O garoto de 87. A pequenininha. O fã do Nasi. Eu e tantos outros que por ventura estivessem no caminho e quisessem dar risada e colocar o papo em dia.
Depois de 2 anos, voltei na tal cafeteria, sem o quarteto. Sentei numa das banquetas, pedi um café com creme e granulado e mesmo com todo o barulho, não ouvia nada além dos risos daqueles amigos.
O café está presente desde sempre. Nas minhas melhores lembranças. Com meu avô, que plantava, colhia e moía. Com a minha bisavó, que o passava ás 5 da manhã e me acordava - doce, forte e quente. Quando a minha mãe foi embora e meu pai era que fazia o café. Coador de pano, aquele programa no rádio "Bom dia Campos Gerais", com o locutor de voz grave, bem cedinho. Quando fomos morar com ela na casa nova e o café era vendido no bar em dias frios. As duas garrafas térmicas na loja de materiais de construção. Café da tarde na rádio em Carambeí, antes de sair correndo pra rodoviária. Na Rádio Rock, o café no Pop's da XV com os caras que eu mais admirava. Café no xerox, onde a Carol trabalhava ou, antes de ela ir pra Blume, na casa dela. Na faculdade, o café da cantina. O refúgio da cafeteria da rua de baixo. Com um amigo aleatório. Na cafeteria do Mufatto. Os cafés dos primeiros dias na Pan, regados a piada e besteira, com a cozinha cheia de gente. Todos os cafés no sábado de manhã com meus irmãos. Os cafés do meu pai. O café docinho da minha mãe. Acho que depois de tudo isso, posso dizer que só nos tornamos amigos de uma pessoa mesmo, depois de um café...
Ou... de uma cerveja!

Nenhum comentário:

Postar um comentário