segunda-feira, 1 de março de 2010

Contos de Luzia Sina - Um monstro de canelas finas


Na noite seguinte, Luzia decidiu enfrentá-lo. Armou-se com seus melhores pensamentos, agarrou o velho urso de pelúcia e foi para o combate. A armadura era composta por um pijama colorido e pantufas em forma de pata de tigre. Luzia, crente que venceria, aumentou o volume do rádio. Hoje o tom era dado por um rock dançante. Ela chacoalhava o corpo e com os cabelos soltos mexia a cabeça sem parar. Tirou todas as coisas do armário e varreu embaixo da cama. Apagou a luz e disse bem alto: “Bicho papão você não pode me pegar!”

Logo se viu por trás da porta um par de canelas finas. Que cara teria o tal monstro? De que cor seria? Agora os temores de Luzia davam lugar à curiosidade. Ela não queria machucá-lo, só queria conhecê-lo. Seriam bons amigos. Porque não grandes companheiros?! Os dois estavam sozinhos... Luzia Sina seria a mais nova doida do bairro se contasse à alguém sobre o monstro de canelas finas que habitava seu quarto.

A caça ao fantasma durou horas. Ele saiu porta fora, se escondeu em outros cantos. Estava mais brincando que assombrando. Fazia maldades e assustava Luzia de vez em quando, mas acabava sempre por se render à seus encantos. Tinha uma risada inconfundível e o dom de irritar Luzia. Mas agora ela já estava até se afeiçoando. Queria que o bicho papão, antes tão temido, ficasse. Com quem iria conversar? Das canelas de quem iria rir? Luzia Sina, quem diria?! Foi se apaixonar logo por um monstro bem humorado de canelas finas que a tirava do sério. Acabou que Luzia preferia as noites e o medo de escuro já não andava por lá.

No fundo ela sabia, era tudo ilusão. Continuava sozinha. O tal bicho papão era apenas um fruto de sua fértil imaginação. Mais cedo ou mais tarde ele também iria e aí viriam outros monstros, de outras cores, com outras canelas. Talvez mais complicados, bem mais assustadores. O mais temido era um tal chamado... Realidade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário