quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um brinde à Solitudine...


Ela está presente em tudo. Minha boa e sempre amiga solidão. Com quem eu falaria nas madrugadas senão com ela? Com quem eu brigaria nos dias estressantes se acaso não a tivesse? A conversa não teria sentido se ela não respondesse na volta solitária pra casa. Meu lar, ah o meu lar, não teria o mesmo cheiro se ela não me aguardasse todas as noites com o controle da TV e um macarrão instântaneo. Não sei porque as pessoas tem medo dela. Sinceramente não entendo os motivos e desculpas para dispensá-la. Ela é uma ótima companhia, por si só já basta. Descobri isso quando me peguei falando sozinha na beira do fogão no último sábado. Foi mais ou menos assim:


Sábado. Começo de ano. Ruas silenciosas. Friozinho de verão lá fora. 1 hora da manhã. Não tem ninguém em casa, DE NOVO. Está tudo ligado, luzes, TV, rádio, computador, microondas. Tudo ao mesmo tempo. Por isso nem percebi que estava sozinha. No rádio toca um rock antigo, daqueles com cara de nostalgia, porém confortáveis. Na TV, entrevistas num programa de auditório. Só as imagens, o som está no "mudo". A internet, por mais divertida e intrigante que seja, perde a graça nos primeiros 30 minutos. Mesmo assim o msn continua disponível, "vai que entra alguém interessante. O que é que eu tenho na cabeça? Não tem ninguém interessante em casa num sábado a noite! Qual é o meu problema?" Conversa silenciosamente.

Depois disso o papo começa pra valer. Sempre em silêncio.

"Acho que vou fazer um miojo... Tá frio né?! Vou esquentar água também pra deixar os pés de molho. Humm... que mais? Já estou de pijamas, ah!, cobertores menina! Eu podia terminar aquele livro..."

Nunca vi ninguém falar tanto consigo mesma. Pior, nunca vi alguém fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Mas é compreensivo. Ocupando a mente as horas passam mais depressa. Se estiver conversando com você mesma não há espaço para tornar sua velha amiga uma má cia. O vazio é preenchido por sons, mas vai desembocar nas mesmas velhas perguntas até o sono chegar... "Porque eu estou sozinha? Será que eu conseguiria estar com alguém? O que está faltando? Sei... sei, tudo a seu tempo, paciência..."

Depois do planejamento vem a execução. No fogão: Nossa eu realmente não sei cozinhar, nem macarrão instantâneo. Acho que coloquei água demais. Eu devia desligar o computador né?! Não vai entrar ninguém interessante mesmo. O que que eu tô esperando? Meu príncipe encatado num quadradinho verde? (Pausa para delisgar o computador. Uma última olhada e a depressão profunda de não encontrar nada. Segundos e ponto uma tela escura).

Macarrão terminado, sala de estar lotada de possibilidades para tonar a solidão agrádavel e uma mulher esperando a noite acabar. O rock continua, a TV também, mas agora o sofá a abraça e os cobertores a aquecem, o livro está em suas mãos, mas é impossível ler mais de uma frase a cada olhar. Finalmente ela se cansa e confessa desconcertada: "Já que você vai ficar mesmo, pelo menos diga alguma coisa, assim não me sinto tão só." E a Solidão responde alegremente: "Eu sabia que você não iria resistir muito tempo. Entretanto, há duas coisas que precisa saber. Primeiro, também estou sozinha, temos algo em comum e, segundo, meu objetivo não é te fazer cia e sim te convencer de que você está definitivamente sozinha e que ninguém pode te ajudar. Nem eu!" Inverte-se o jogo: "É, mas você está falando comigo agora, somos as únicas aqui e você vai ficar. Toma um vinho comigo? Muito bem, um brinde à você, à solidão, que sempre está presente e que não precisamos conquistar..."
Depois desse dia, coloco a solidão no banco dos passageiros e a gente volta pra casa conversando. Ela não é tão ruim. Só está sozinha...

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