segunda-feira, 26 de maio de 2025

Meio Termo

 Me sinto completamente perdida. Sim, faço terapia escrevendo bobagens e dores aqui, na expectativa sincera e real de quem ninguém pare pra ler. Talvez se perguntem: porque deixa público então?! Não sei, só quero escrever, não sobrecarregar os e-mails, ter noção do sentimento daqui um tempo, quando voltar pra ler, talvez. 

Voltei, hoje 26/05, decidi continuar daqui mesmo, porque o sentimento permanece. Esses dias, depois de um momento de desabafo meu, o Alison disse: estamos apenas existindo amor. Pareceu tão pouco apenas existir e a consciência disso soa tão absurda que beira o ridículo. Existir é o máximo, respirar, viver e etc. Não me entenda mal, é só uma espécie de vazio injustificável, algo que se pronunciado em voz alta parece pecado, ingratidão diante de tanto, mas sentida de maneira tão real que se torna tangível.

Olha eu aqui, com palavras rebuscadas, sentada num canto enigmático com pouca luz, perto de uma planta pra dar aquele ar cool natural, fingindo que sei qualquer coisa sobre a vida, tentando escrever e me sentindo uma fraude completa. 

Talvez eu tenha sido o meio termo. Sabe?! Não escrevi nada de verdade, não sou de esquerda de verdade, não sigo a cultura local, não frequento as rodas de conversa interessantes, não tenho perfil de escritora, nem de jornalista de verdade. Eu também não fui pra TV fazer reportagem, nem virei assessora de político, não abri uma agência, nem fiz um podcast e, apesar de parecer o contrário, também não virei influencer (ri pensando que até esse podia ser um caminho). Eu li, mas pouco perto das pessoas que leram de verdade, eu estudei, mas nada perto de quem parece saber do que fala, fiquei no mesmo lugar comum e é bem estabelecido aqui. 

Eu gosto! É seguro, conhecido, eu pareço entender e acho que sei um pouco - mas não o suficiente pra ser capaz de estar a frente e de crescer como eu quero, não por minha vontade. De toda forma, pode ser que seja comum pra mim que tô aqui há 23 anos, mas pra quem olha de fora dá aquele ar de extraordinário - é extraordinário, desculpe, mas é que eu queria mais, e talvez more aqui esse vazio. Talvez eu goste de desafios, de ser útil pra variar. Não queria só existir, queria fazer mais!

Hoje de manhã uma ouvinte foi super carinhosa nas mensagens, eu vi a foto dela e me passou aquele ar de "senhora que é bom de abraçar", abraço que lembra casa, vó, mãe. Ela tem o cabelo bem curtinho e grisalho e óculos estampado de oncinha na foto - achei um charme. Dona Ireny ganhou o presente e eu pedi que se ela viesse buscar antes do meio dia me avisasse que eu queria dar um abraço. Chegou. Unha feita, cheia de anéis, brinco, batom escuro, elegante. Falava com sotaque espanhol, contou que acabou de voltar de Barcelona onde a filha médica mora, que vive aqui sozinha e, de tempos em tempos, vai pra lá, fica 1 ou 2 anos e volta. Avós de dois netos, uma menina de 7 anos e um bebezinho que dia 12 completa 7 meses. Disse que passa o inverno lá e volta pra curtir o inverno daqui, que o clima é bom pra saúde. Eu, encantada de conhecer mais uma história, ouvi atenta e já soltei: dizem que o verão de lá é muito quente. E ela respondeu dizendo que não, que é tudo bobagem, as pessoas falam sem saber. Contou que iria na novena da Igreja Sagrado Coração e depois no cemitério ver sua mãezinha e que estando aqui não abre mão dessa rotina. Me abraçou e se despediu. Eu sabia que era um abraço bom. 

Voltei pro estúdio pensando que não importa o quanto o rádio mude, algumas coisas permanecem. Eu sei que tem muita gente que acha obsoleto esse negócio de mandar abraço, mas o rádio continua sendo companheiro das pessoas, elas se identificam com você, compartilham suas vidas, ouvem o que você tem pra dizer e por isso você deve falar a linguagem de todos. Claro que tenho mais participações quando entrego um presente, mas a gente não faz ideia, pelo menos não uma ideia real, de quantas pessoas e em quantos lugares diferentes estão nos ouvindo. É extraordinário sim. E eu amo essa parte especialmente.

Li uma dessas frases motivacionais agora pouco que falava: quem têm um porquê enfrenta qualquer como. E a legenda explicava que nosso trabalho é encontrar nosso propósito, porque isso será nossa razão de viver. E aí nessa mistura de tantas sentimentos, não ignoro que ás vezes uso minha maternagem pra justificar minha falta de continuidade, mas nem eu acredito mais nisso, eu sei que escolhi ficar aqui, priorizar eles e fazer o precisava se feito, fiz, tá tudo certo. Mas agora eles estão crescendo e a verdade tá batendo na minha cara com força: eu ainda não sou nada, não fiz nada. Fiquei pensando: será que eu sou uma narradora de histórias? Ou será que eu só amo ouvir e conhecer histórias? Tudo parece grandioso demais mesmo quando é tão simples ou eu que quero dar significado a tudo?

Sigo no meio termo. Uma crente cheia de dúvidas, nem tanto a esquerda, nem tanto a direita, convicta demais em algumas coisas, ignorante demais em tantas outras. Logo eu que sempre tive horror a mediocridade... Não sei, deve ser só cansaço.




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