quinta-feira, 23 de junho de 2016

Aquelas conversas na cozinha

Por mais que você fuja, um dia seus traumas vão bater inesperadamente na sua porta e pedir um abraço e uma solução. Ah eu sei, eles vão ficar te esperando no portão numa dessas tardes frias de Junho e implorar pra entrar. E eles entrarão. Você irá acolhe-los com seu melhor sorriso, oferecer café e cobertor e na hora do jantar vocês chorarão juntos na mesa da cozinha, ainda tentando fugir dessa conversa abafada há tantos anos. 
Tudo acontecerá muito rápido. Vocês estarão falando animadamente sobre algumas lembranças do passado e sem querer vão esbarrar naquela ferida que nunca cicatrizou, mas que também já não incomoda. De repente, aqueles olhos que você tanto ama estarão cheios d'água e aquele rosto envelhecido e preocupado transbordará uma séria de pedidos de perdão. Sua vontade será de gritar, correr e abraçá-lo imediatamente, dizer que não há nada para ser perdoado, que não quis magoá-lo e que está tudo bem, dar colo pra quem sempre foi colo, mas você não fará nada disso. Adultos, como somos mesquinhos de sentimentos. 
Eu apenas o olhei com ternura e pedi que parasse, que tudo já tinha se resolvido e que não queria que a conversa fosse para esse lado. Essa frieza, adquirida com os anos, custou caro, mas às vezes é necessária para que todos possam seguir em frente. Mudamos de assunto e agimos mais uma vez como se aquele momento e aquele passado nunca tivessem ocorrido. Mais tarde fiquei repassando a cena no chuveiro. Não há mais nada a ser perdoado, o que falta mesmo é superar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário