quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Surtos da meia-noite

Ao som de Verde Velma, Fuga.

Então um dia ela desistiu! Não quis mais acordar. Simplesmente abandonou o trabalho, a limpeza da casa e todas as responsabilidades. Ficou deitada olhando para o teto horas e horas. Veio à noite, a madrugada, e ela continuava ali. Jogada no sofá, em meio à bagunça da sala escura, usando aquele pijama velho e desbotado. Todos os seus pedaços espalhados pelo chão sujo. Não queria mais lavar a louça, tão pouco fazer regime. Comeria tudo que sempre teve vontade, todas as porcarias calóricas proibidas. Desligou-se do mundo. Jogou o telefone na privada num acesso de choro, depois de tanto esperar que ele tocasse. Derrubou um copo cheio de refrigerante em cima do computador com uma naturalidade irreconhecível, assim como se regasse uma planta. Virou as costas para o barulho da rua, só queria estar sozinha. Dar uma chance para seus próprios pensamentos. Seria cansaço? Preguiça? Inércia? Ou simplesmente complexo de rejeição? Não importa!

Ela não queria mais tentar nada. Acaba logo com isso de ter contas a pagar, academia, trabalho, projetos, prazos e a pressão exaustiva que a sociedade exerce sobre todos que a compõe. Chega de tentar aprender tudo. Ter que saber sempre mais e perceber que jamais será o bastante. Filmes, teatro, cultura, moda, estilo de vida saudável. Desenvolvimento sustentável, política, meio ambiente e piadas! Quantas piadas existem para serem aprendidas?! E as revistas e livros então?! Tudo que ela lia... Emails, jornais, outdoors, na TV, no rádio, pra quê tanto otimismo?

Todos diziam a mesma coisa. “Perca 10k em três meses sem parar de comer!” “Conquiste o homem dos seus sonhos com 10 dicas infalíveis!” “Como ser a mulher ideal na cama!” “45 formas de apimentar a relação!” “O que os homens querem?” “Acredite na beleza!” “Pense positivamente e coisas positivas acontecerão!” “As pessoas gostam de quem se gosta!” Era muita informação. Sem falar nos compromissos. Cuidar da casa, ser a melhor no trabalho, ser a mais magra e bonita, ser inteligente, divertida, sensual, forte e ao mesmo tempo feminina. Ser boa mãe, boa filha, boa amiga. Ir acampar. Ir ao cinema com a melhor amiga. Ir ao teatro com o amigo gay. Ir ao parque de diversões com a sobrinha. Ser aventureira. Saber cozinhar. Dirigir. Tomar uns tragos no barzinho. Organizar uma viagem. Chá de panela, de bebê, casamentos, enterros, aniversários. Ahhhhhh... Um dia ela surtou!

Ninguém se importa com o quanto você está cansada, ferrada no trabalho ou num rolo interminável com um cara qualquer? Não, ela não queria mais isso. Hoje ela tinha desistido. Odiava ter que fazer isso, mas desistiu! Ela queria tanto ser forte. Queria tanto ser tudo. Mas não pôde. Agora era só a revoltava com sua fraqueza. Não era justo viver numa sociedade tão estressante e ambiciosa assim. Pra quê tudo isso? Ela precisava esquecer. Depois de chorar até soluçar e esmurrar a parede caiu no sono. Amanhã ela teria que trabalhar, alguém tinha que comprar gás! E a vida não podia parar...

Um comentário:

  1. Credo, Jéssica... põe o sutiã em cima da blusa e seja feliz! hahahahaha

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