A recepcionista é orientada para ser atenciosa com todos os convidados, no entanto, se derrete toda quando recebe uma cantada e simplesmente esquece o profissionalismo. Diz sorridente: "Sabe onde é sua mesa? Precisa que eu o acompanhe?" Ele galanteador, beija as mãos da moça e responde: "Sei sim! Mas se quiser me acompanhar, não me importo!" Ela mais que de pressa ignora minha existência e o leva até seu lugar.
Férias, ah as férias! No auge da minha velhice ranzinza, questiono as tardes livres dos inúmeros adolescentes que se amontoam em frente ao shopping e as meninas na porta do supermercado, falando alto, rindo, sem nada pra fazer. Se quer lembro das tardes em que eu e minhas colegas do volei tumultuávamos à entrada do mercado, com música, bolachas trakinas e coca-cola. Nós acreditávamos que seríamos magras e atletas para sempre. Nunca nos passou pela cabeça o quanto aquelas trakinas custariam à sair de nossas pernas em forma! Agora, passo correndo pela porta do mercado, vejo as mesmas meninas com os mesmos hábitos, invejo-as. Estamos envelhecendo, saímos de casa com motivos certos e urgentes.
E então as relações humanas continuam surpreendentes. Uma tarde, num encontro ao acaso no meio da rua, um único abraço. Não há nada a ser dito, nada conforta mais que um abraço. É o suficiente para fazer chorar, para retirar do peito toda a dor, o medo e desabafo sincero. A filha fala do pai, da exaustão e dos sonhos que ficaram pela metade. Você tão egoísta, se cala, chora junto, pede por eles, pede pelos seus e teme o dia que enfrentará seus maiores pesadelos.
As relações humanas são mesmo surpreendentes. Um dia um homem embriagado conta sua história e chora suas alegrias para uma desconhecida. Fala do filho adotivo, que é mais seu do que de qualquer outro. Se enche de orgulho, diz que não teve filhos de sangue porque era imensamente feliz com os filhos adotivos. Fez um brinde, comemorou muito. Disse orgulhoso: "Vou tomar um porre, pelo meu filho hoje!" E o filho todo agradecido, aparece do nada: "Meu pai é o cara!"
Escutando aquela história, meus olhos se encheram d'água, a vida podia ter sido diferente, de algum jeito... Nunca amei meus padrastos e madrastas. Minha relação com eles foi exatamente como nos contos de fada, um pesadelo. Mas não nego que eles contribuíram para minha formação pessoal. Pode ser que tudo que aconteceu tenha me feito crescer. E naquelas circunstâncias, quem sabe o que teria sido de fato melhor... Ninguém tem culpa de nada. Mas se um dia você se tornar madrasta ou padrasto de alguém, por favor seja legal, crianças não merecem sofrer de forma alguma e independente do que seus pais tenham feito, são seus pais e ninguém tem direito de dizer nada sobre eles!
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