terça-feira, 15 de outubro de 2024
Teto de Vidro
quarta-feira, 15 de maio de 2024
E-mails
Hoje rapidamente reencontrei uma menina cheia de juventude, ouvindo The Mamas & Papas, Bobby Mcgee e todas as outras da Janis Joplin, Made In Brazil, trocando e-mail com letras de músicas, ora doce e apaixonada, ora cruel e independente, não a reconheci. Será que era mesmo eu? Será que eu era uma versão de mim tentando se encaixar sem me perder?! Em algum lugar eu queria ser aceita, pertencer àquele grupo - nunca tinha tido um grupo de verdade até então. Então se eles ouviam Beatles, de repente eu gostava, sem nunca ter ouvido antes, mas eu não queria ser uma cópia, mantinha minha originalidade dizendo que era mais Elvis Presley, não era mentira. Se a moda era gostar de Friends, eu gostava, mas por eles, era a primeira vez que eu assistia na casa da Carol e sim, era legal, mas era ainda mais ter aqueles amigos comigo, por isso eu gostava tanto. Se eles compravam camisetas e blusinhas de bandas e da Amy Winehouse, eu também comecei a colecionar. Se tinha show, eu queria ir junto. Não é que eu não gostasse, pelo contrário eu gosto até hoje, mas sinceramente havia uma crise de identidade - HÁ! Talvez eu nunca tenha sabido bem equilibrar quem eu sou verdadeiramente, quem eu represento ser, quem eu gostaria de ser, quem eu acho que as pessoas esperam que eu seja. Isso sempre me levava a me desculpar por tudo.
Entre narrativas e histórias, tenho 3566 e-mails e muitos precisam ser excluídos, mas daquela época, ficou um que eu sempre volto pra ler. Eu magoei algumas pessoas pelo caminho, era mais metida do que julgava na época, falava muito mais que hoje, escrevia ainda mais, e um dia depois de muitas idas e vindas, um menino me fez perceber (não na época porque eu não tinha noção do quão horrível estava sendo é claro) que apesar de essencialmente eu ser uma boa pessoa, de termos compartilhado muitas conversas profundas no carro, sonhos para o futuro, planos de vida e até sentimentos sinceros e bonitos, eu era ruim, especialmente com ele, que tinha sido tão legal comigo. Eu sei que em algum momento, muito tempo depois eu devo ter reconhecido isso - realmente espero que sim! - mas eu deixei guardado pra lembrar que eu também fiz mal para as pessoas numa juventude distante. Lá se vão quase 20 anos. Os sonhos são bem mais simples agora, com certeza não somos mais os mesmos, mas as músicas nos e-mails e a sensação boa que dava me fez sentir saudades, de mim!
sexta-feira, 8 de março de 2024
A primeira mulher
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Aniversário de dor
Recentemente, um vídeo de um menino falando com paixão um dos mais famosos ensinamentos do Rock Balboa para o Stallone, viralizou. Sabe, aquele em que ele fala que a vida vai bater forte e tal, resiliência:
"Ninguém vai bater mais forte do que a vida. Não importa como você bate e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha."
Já acreditei tanto nisso. Já preguei tanto isso. Depois de tanta surra, aqui na véspera do aniversário da última vez que fui nocauteada, penso que tem algumas brigas que arrasam com a gente. Ok, você levanta, mas nunca mais é igual. Começa a colecionar cicatrizes no caminho, vai ficando mais cansado, derrotado à cada vitória, chega uma hora que nem entende mais o sentido, o porque de tanta luta e só quer sarar (ou morrer) - (Isso pareceu dramático e forte demais, mas é mais no sentido de desistir, de cessar).
Na igreja aos domingos a mulher no palco lembra que é preciso desatar nós, desprender das âncoras que nos puxam pra baixo. Na Bíblia tem várias passagens sobre abandonar o passado e fazer tudo novo. A amiga diz que eu preciso colocar no mar do esquecimento. Hoje numa conversa aleatória, alguém perguntou de uma cicatriz da infância e ao me ouvir falar que preferia ter apanhado dos meus à ser mal tratada e humilhada pela madrasta - ainda que do meu ponto de vista eu tenha dito isso sem nenhuma raiva - me falou sobre liberar perdão e que provavelmente essa tortura é minha e que a pessoa nem sabe. Faz sentido. Ainda que pra mim já estivesse de alguma forma tudo acertado. Perdoado e não se fala mais nisso. Tenho o costume de pensar nas razões das pessoas, a fim de sempre justificar as dores que me causaram, sempre tentando salvar aos outros, nem que eu apanhe. Mas tem que perdoar e só. Dizem.
Nunca aprendi como. A cicatriz fica. A dor fica um tempão. Surra deixa marca. Apanhar da vida assim vai quebrando a gente, pedaço por pedaço, tem horas que nem que junte não cola mais. E aí, você fica mais amargurado e descrente. Desconfia até de Deus (perdão pela blasfêmia Senhor). Não é de propósito, mas a qualquer momento, as marcas se sobressaem em alerta, pra lembrar que tudo pode acontecer, inclusive a derrota, o coração estilhaçado, a decepção, a morte, a falta de fé, a desesperança.
Fica uma luta interna pra não se deixar dominar pela dor mas também pra não esquecê-la e lembrar que DÓI, mesmo que a gente levante depois da queda.